Agora é oficial: Google Chrome OS

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Google Chrome OS

Não é de hoje que se especula sobre o lançamento do “Google OS”, um sistema operacional para micros PC baseado em nuvem, que viria para competir com o Windows. Inicialmente especulava-se que o Google OS seria uma distribuição Linux, mas os boatos foram perdendo força com o tempo, especialmente depois que foi anunciado o Android, que parecia ser uma boa conclusão para a história. Em vez de se aventurar no problemático mundo dos PCs, o Google parecia ter preferido se contentar com o pacato mundo dos dispositivos móveis.

A possibilidade de um “Google OS” se tornou ainda menos plausível com o lançamento do Chrome. Afinal, hoje em dia o navegador é a peça mais importante em qualquer desktop e lentamente vai se tornando mais importante do que o próprio sistema operacional. Faria todo o sentido que o Google se limitasse a desenvolver um navegador competitivo, deixando que outros fizessem o trabalho sujo, lidando com drivers e kernéis.

Eis que, quando ninguém mais levava a sério a possibilidade de um “Google OS”, ele é finalmente anunciado:

O Google Chrome OS é, em poucas palavras, um sistema operacional baseado no Chrome, destinado a netbooks.

O anúncio do uso do Chrome colocou por terra as especulações de que ele seria um port do Android para micros PC. Na verdade, o Android e o Chrome são projetos diferentes dentro do Google, com propósitos bem diferentes e muitas diferenças técnicas. Um bom exemplo é que, o navegador do Android possui diversas diferenças estruturais em relação o Chrome, incluindo o uso da engine SquirrelFish para processamento de javascript, em vez do V8 usado pelo Chrome nos desktops. Em resumo, o Android é o projeto do Google para dispositivos móveis, enquanto o Chrome é o braço para os desktops.

Dentro do anúncio é citado que o Chrome OS é “uma tentativa de reexaminar o que os sistemas operacionais devem ser“, o que é uma maneira pomposa de dizer que ele é baseado na idéia do Cloud computing, com integração com os serviços do Google.

Considerando que já possuem o sistema de e-mail mais usado (o Gmail), uma suíte de escritório (Google Docs), aplicativos de comunicação e relacionamento (Google Talk, Orkut) e até uma plataforma de streaming de mídia e TV digital (YouTube), sem falar no serviço de busca que é a espinha dorsal da Internet, a proposta faz sentido.

Em seguida é usada a frase “sistema operacional leve e open-source, inicialmente destinado a netbooks“, que, novamente, é uma maneira pomposa de dizer que utilizarão uma mini-distribuição Linux para rodar uma interface baseada no Chrome. Isso me traz à mente uma das páginas da história em quadrinhos postada na época do lançamento do Chrome:

Traduzindo, o Gears é um recurso do Chrome que funciona como uma API para o desenvolvimento de aplicativos que rodam dentro do navegador, que podem ser escritos usando javascript e outras tecnologias de desenvolvimento web.

Em teoria, o Gears pode ser usado para desenvolver todo o tipo de aplicativo; existe um certo overhead de processamento, mas ele na verdade não é muito maior do que temos em muitas linguagens de alto nível.

A vantagem do ponto de vista dos desenvolvedores seria que os aplicativos poderiam rodar de forma independente da plataforma, atingindo simultaneamente usuários do Windows, OS X, Linux e, naturalmente, também os do Chrome OS.

É bem provável também que o Gears seja usado para desenvolver versões offline do Google Docs, Gmail (permitindo que você leia e responda os e-mails enquanto estiver desconectado, uma opção que na verdade já está disponível) ou até mesmo do Youtube, armazenando uma cópia local dos seus vídeos favoritos.

Até o momento, não tenho visto muito movimento em torno do Gears, mas se o Google conseguir transformá-lo em uma opção viável de desenvolvimento, terá a chance de controlar não apenas a web, mas também o sistema operacional e os aplicativos locais.

De volta às bases, desenvolver distribuições Linux especializadas como a que vão utilizar no Chrome OS é um trabalho relativamente simples. Dois bons exemplos são o TinyCore e o SliTaz sobre os quais falei anteriormente. Ambos oferecem um boot muito rápido e oferecem um ambiente mais do que suficiente para rodarem uma interface baseada no Chrome.

Alguém poderia argumentar sobre a questão dos drivers, já que seria muito custoso para o Google arcar com o desenvolvimento de drivers para todo o tipo de hardware, a ponto de conseguir competir com o Windows nos desktops. É justamente aí que entra a frase “inicialmente destinado a netbooks“, que indica que a estratégia inicial é focada em um nicho específico, e não nos desktops em geral.

Quase todos os netbooks do mercado são baseados no Atom e possuem componentes internos muito similares, quase sempre com um Atom N270/N280 combinado com o chipset 945GSE/ICH7M. A aparência externa pode ser diferente, mas por dentro são todos clones uns dos outros.

Com tão poucas variações, fica fácil para o Google oferecer suporte aos componentes usados, ou até mesmo certificar o sistema para uso nos modelos populares, permitindo que os fabricantes o forneçam pré-instalado nos aparelhos. Não precisarão ir muito longe, já que as versões atuais do kernel oferecem um suporte quase irretocável aos netbooks, incluindo suporte 3D, wireless e suporte à suspensão e outros recursos de gerenciamento de energia. Distribuições atuais, como o Ubuntu 9.04 já detectam tudo sozinhas:

De fato, é usada a frase “netbooks rodando o Chrome OS estarão disponíveis no varejo a partir do segundo semestre de 2010“, indicando que já existem negociações em curso com alguns integradores.

Foi confirmado também que o Chrome OS terá um porte ARM, o que pode potencializar o lançamento de smartbooks baseados em processadores ARM, que têm tudo para serem mais baratos e oferecerem autonomia superior à dos modelos atuais. Uma das principais interessadas é a nVidia, com o Tegra.

A Microsoft foi pega com as calças na mão pelo fenômeno dos netbooks e está enfrentando tempos difíceis tentando adequar o Windows 7 a eles. Os produtos atuais são ainda baseados no modelo da década de 90, com uma versão recauchutada do Windows XP que é vendida por US$ 15 para os integradores, combinada com uma versão shareware (!) do MS Office. Olhando isso em perspectiva, o lançamento do Google Chrome OS parece fazer todo o sentido. Com o Chrome OS, o Google não está apenas lançando mais uma distribuição Linux, mas sim atacando o modelo de negócios da Microsoft diretamente nas bases.

Como sempre, quem determinará se o Chrome OS será um sucesso ou um fracasso é o usuário médio, que terá que escolher entre os netbooks com o Windows, com Linux ou com o Chrome OS na hora de comprar. É indiscutível que tanto os netbooks quanto a computação em nuvem continuarão crescendo, resta saber se os usuários vão morder a isca e encarar a transição para o modelo oferecido pelo Chrome OS.

Concluindo, alguns vão torcer o nariz para o fato de me referir ao Google sempre no masculino, em vez de dizer “a Google” (no feminino) como muitos defendem. O motivo é simples: o Google não é “uma” empresa, mas sim “um” império. O Chrome OS é apenas mais uma amostra disso… 🙂

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